segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Resumo- Manuelzão e Miguilim

A) Campo Geral da Obra Manuelzão e Miguilim
Mais conhecida como “Miguilim”, Campo Geral conta a história de um menino de oito anos, que vivia com a família no Mutum, no meio dos Campos Gerais. Com a família, viviam o irmão do pai (tio Terêz), a tia-avó materna (vovó Izidra) e alguns agregados: Rosa, a cozinheira; Maria Pretinha, empregada, e Mãitina, negra velhíssima e beberrona, acusada de ser feiticeira. Dois vaqueiros também compõem o núcleo de personagens da história: Jé e Saluz.
Quando completara sete anos, Miguilim fora levado pelo tio, de quem gostava muito, para ser crismado no Sucuriju, lugarejo distante. Primeira vez que saíra de casa, sentira saudades.
Na viagem, alguém que já tinha morado no Mutum comentou com ele: “É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre”. O menino gostou da maneira como a pessoa falou do lugar em que vivia e a primeira coisa que fez ao chegar em casa foi consolar a mãe (a qual se queixava, principalmente, da chuva) dizendo que o Mutum era um lugar bonito. Mas isso causou desgosto ao pai, e ele foi castigado, não podendo ir para a pescaria no dia seguinte. Para que Miguilim não ficasse triste, seu tio ensinara-o a armar “urupucas” para pegar passarinhos.
Por ter chegado de viagem, os irmãos pediram a ele presentes, mas ele não os havia trazido e inventava desculpas: “Estava tudo num embrulho, muitas cousas… caiu dentro do corgo, a água fundou… Dentro do corgo tinha um jacaré, grande…”
A família criava muitos cachorros, todos conhecidos por determinado nome. Pingo-de-Ouro, a predileta de Miguilim, fora dada para “uns tropeiros” quando já estava quase cega. Por causa de uma canção conhecida, na qual o menino chorava por causa de sua “Cuca”, o menino passou a chamá-la de Cuca.
Certa vez, Dito avisa ao irmão mais velho que o pai está batendo na mãe. Por tentar defendê-la, Miguilim é posto de castigo “no alto do tamborete”. Lá, reflete sobre as surras e castigos que ele e Chica sempre levavam, pensa na brutalidade do pai e chega a comparar sua história com a de João e Maria, perdidos no mato. Dito, como quem não quer nada, aproxima-se dele para lhe fazer companhia sem que outros percebam, já que ninguém podia conversar com quem estava de castigo. Chica (sua irmã) traz-lhe água.
Quando Nhô Béro (o pai) sai, tio Terêz avisa que um temporal estava chegando. Vovó Izidra expulsa-o de casa acusando-o de “Caim que matou Abel”. Cai um temporal, e Miguilim acredita que tivesse sido por causa da mãe, do pai edo  tio Terêz. Todos vão rezar, pois têm muito medo.
O pai retorna depois da noite de chuva, e Dito procura ouvir as conversas dos adultos, o que Miguilim achava muito chato. Ele desejava permanecer criança.
Seo Deográcias, entendedor de remédios, acompanhado de seu filho Patori (de quem Miguilim não gostava), aparece para cobrar uma antiga dívida e aproveita para olhar a saúde do menino. Por achar Miguilim muito fraco e magro, o curandeiro receita ervas para que ele não adoeça.
Assustado, Miguilim pensa que vai morrer de tuberculose e pede para rezarem com ele. Depois de muita angústia, o menino faz um pacto com Deus: se não morresse dentro de dez dias, não morreria mais. Ora brincando, ora procurando as pessoas para compartilhar de seus medos, Miguilim começa a ficar assustado apenas no nono dia, quando não consegue fazer a novena prometida.
No último dia, ele não sai da cama, esperando a morte chegar. Drelina, sua irmã, por perceber seu sofrimento, permanece de mãos dadas com ele, enquanto Dito vai chamar seo Aristeo, vaqueiro bonito e persuasivo, o qual consegue convencer Miguilim, de que não vai morrer. O pai, de tão feliz que ficou, resolve dar ao menino o serviço de levar para ele comida na roça.
Miguilim se alegra, pois o pai passa a brigar menos com ele. Na volta da primeira vez em que vai exercer tal serviço, tio Terêz surge do meio do mato e entrega a ele um bilhete, que deveria ser entregue à sua mãe. Miguilim fica com a consciência pesada por não saber se isso é certo, mas, ao mesmo tempo, tinha prometido ao tio que entregaria o bilhete e angustia-se por não saber o que fazer.
Então, questiona Dito sobre o que é certo: “‘Dito, como é que a gente sabe certo como não deve de fazer alguma coisa, mesmo os outros não estando vendo?’ ‘- A gente sabe, pronto.’”. Não satisfeito com a resposta, Miguilim começa a perguntar a opinião de diferentes pessoas: Rosa, mãe, vaqueiro Jé, vaqueiro Saluz, mas não consegue chegar a qualquer conclusão e resolve não pensar mais nisso, ocupando o seu dia para que ele passe rapidamente.
Na hora de dormir, para garantir que nada aconteceria com o bilhete que estava em seu bolso, o menino não tira a calça. Na manhã seguinte, a caminho da roça, pensa em desculpas variadas para dar ao tio, mas acaba contando a verdade e chora copiosamente.
O tio compreende a atitude do menino, louva seus escrúpulos, beija-o e vai embora. No caminho da roça, Miguilim se amedronta com alguns vultos que roubam e comem o almoço do pai, o qual vai verificar juntamente com Luisaltino o que ocorrera. Os dois descobrem que o menino assustou-se com um bando de macacos e a história vira chacota.
Miguilim, então, precisava ficar a sós com Dito e com ele conversa sobre rezas e filosofias. O menino acreditava na sabedoria inata do irmão. Começa a chover novamente no Mutum. Vaqueiro Saluz leva Luisaltino para começar a ajudar Nhô Béro na roça e traz a notícia de que Patori havia assassinado um rapaz e, por isso, fugira. O pai, desesperado, procurava pelo filho sem cessar. Luisaltino traz com ele um papagaio, Papaco-o-Paco. Apesar de ser de Chica, o animal gostava mesmo da cozinheira Rosa, a qual o alimentava e lhe ensinava novos cantos e falas. Nessa época, passa pelo local o Grivo, menino muito pobre, por quem Dito e Miguilim se afeiçoam.
O veranico seguiu tranquilo, com o pai e Luisaltino trabalhando muito, e este conversando por diversas vezes com Nhanina. Dito conta a Miguilim que vira o vaqueiro Jé abraçando Maria Pretinha.
Siarlinda, esposa do vaqueiro Saluz, vai visitar a família e conta para os meninos muitas histórias. Os dois gostam principalmente das de assombração. Miguilim, a partir desse momento do livro, começa a se interessar também por criar e contar as mais incríveis narrativas.
Patori é encontrado morto e Nhô Béro vai ao enterro. É noite de lua cheia e toda a família vai até o alto do morro para fazer um passeio. Como Nhanina só dá atenção para Luisaltino, Miguilim fica enciumado e diz que “queria ver o mar, só para não ter essa tristeza.” A mãe o entende e o pega pela mão.
Na manhã seguinte, todos foram tomados pela felicidade: Rosa havia conseguido ensinar Papaco-o-Paco a dizer: “Miguilim, me dá um beijim”.
Depois disso, começam os tempos ruins: Siarlinda briga com o vaqueiro Saluz, o qual fica com dor de dentes e crise de hemorroidas; o cachorro Julim é morto por um tamanduá; Nhô Béro adoece de pena e todos ficam tristes por isso; um marimbondo ferroa Tomezinho; o touro Rio Negro machuca a mão de Miguilim que, nervoso, bate no irmão querido que o viera consolar. Arrependendo-se, envergonha-se e vai para o castigo no tamborete. Dito vai vê-lo e Miguilim, finalmente, pede desculpas. Dito chega à conclusão de que, além de irmãos, eles são grandes amigos.
Naquela madrugada, Maria Pretinha foge com o vaqueiro Jé. Pela manhã, Dito tenta encontrá- los no esconderijo das corujas, mas eles já haviam ido. Nesse meio tempo, o mico-estrela da família escapa e todos saem para procurá-lo. Na busca, Dito corta o pé profundamente em um caco e sangra muito.
Nele fizeram um curativo com ervas, mas o menino continua se sentindo fraco. Passa a ficar todo o tempo deitado na rede; para poder se inteirar do que acontecia,  pede para Miguilim comentar com ele tudo o que estava ocorrendo com as pessoas em geral. Ele passa a ser o “informante” de Dito. O tétano, porém, com o passar do tempo, piora, causando no menino dores de cabeça, febre e vômitos. Vovó Izidra reza o terço emnome de Dito.
Chega a época de Natal, e a velha vai montar o presépio, para a tristeza de Dito, que não pode ajudar. Miguilim também não vai para fazer companhia ao irmão e conta mil histórias inventadas para distraí-lo. “Deus mesmo era quem estava mandando”. Dito sorri e dorme. A doença começa a enrijecer os músculos da criança, em lenta agonia. O pequeno doente pede desculpas ao irmão mais velho por tê-lo invejado quando Papaco-o-Paco falou seu nome. Miguilim e Rosa começam, então, a tentar ensinar o papagaio a falar o nome do Dito, mas em vão.
É véspera de Natal e Dito cada vez piora mais. Luisaltino sai em busca de Seo Deográcias e Seo Aristeo. Maria Pretinha e o vaqueiro Jé retornam à fazenda e todos rezam juntos o terço. Nhanina fica junto do filhinho adoentado. Este, querendo ficar sozinho com o irmão querido, chama por ele e pede para lhe contar a história da cahorrinha Cuca Pingo-de-Ouro. Miguilim não consegue e Dito passa para ele seu último ensinamento: “Miguilim, Miguilim, eu vou ensinar o que agorinha eu sei, demais: é que a gente pode ficar sempre alegre, alegre, mesmo com toda coisa ruim que acontece acontecendo.
A gente deve de poder ficar então mais alegre, mais alegre, por dentro!…” Miguilim, ao ver o irmãozinho morrendo, não aguenta e sai do quarto. Vai procurar Mãitina e pede para ela fazer todos os feitiços que conhece para o Ditinho não morrer, mas, nesse instante, ele percebe que já é tarde. Desesperado, chora copiosamente. Regressando ao quarto, observa o jeito como a mãe sofre de tristeza pela perda do filho. Chega a perguntar por tio Terêz e é informado de que este nem estava sabendo da morte do sobrinho, já que estava bem longe. Os dias que seguem são de dor e raiva, o menino queria que Dito voltasse e começa a perguntar para as pessoas o que pensavam e sentiam a respeito do irmão, pois “queria como algum sinal do Dito morto no Dito vivo, ou do Dito vivo mesmo no Dito morto”. Rosa e Mãitina tentam consolar Miguilim e constroem um túmulo simbólico para o falecido irmãozinho no quintal.
Papaco-o-Paco grita um dia, sem que ninguém esperasse: “Dito, Expedito! Dito, Expedito!” e todos se emocionam muito. Para ocupar a cabeça do filho, Nhô Béro resolve levá-lo para trabalhar consigo na roça.
O tempo vai passando, e Miguilim começa a ficar cada vez mais preguiçoso, comer muito e achar que nada vale a pena: “tudo de repente se acaba em nada.” O pai, mais violento com o menino a cada dia, implica com seus tombos e sua falta de atenção e um dia fala para Nhanina que quem deveria ter morrido não era o Dito, e sim o Miguilim. Vovó Izidra diz que “esse Béro tem osso no coração”.
Certo dia, chegam de surpresa, para passar quinze dias com a família, o tio Osmindo Cessim e o mano Liovaldo, que demonstrava ser “tão maligno quanto o Patori”. Miguilim continua pensando na sabedoria inata do irmão querido e seus ensinamentos. Não demora muito para Liovaldo judiar do Grivo e, para defender o amigo, Miguilim bate no irmão mais velho. Nhô Béro dá-lhe uma surra tão grande que, com muita raiva, a criança planeja o modo como matará o pai quando crescer e fica triste com a mãe por não o ter defendido. Por pedido dela, ele aceita ir passar três dias com o vaqueiro Saluz, galopando e campeando boiada. São três dias felizes para ele, apesar de não conseguir enxergar os detalhes da natureza que o vaqueiro lhe mostrava. Sente saudades apenas de Rosa e Mãitina.
Ao voltar, ainda magoado, Miguilim enfrenta o pai. Este, maldosamente, solta seus passarinhos e quebra suas gaiolas. Revoltado, o menino reúne todos os seus brinquedos no quintal e os destrói. No paiol, onde se esconde para chorar, Liovaldo chega para tentá-lo e é por ele expulso.
À noite, ao recusar uma moeda que lhe é oferecida pelo tio, este o elogia: “Esse não é de envergonhar ninguém, não. Tem coisa de fogo.” Quando o tio parte com o irmão, Miguilim se alegra e pensa em ir também embora dali um dia.
De uma hora para outra, porém, o menino adoece e sente dores na nuca, fraqueza e passa a vomitar. Durante a doença, Miguilim ouve uma conversa de Nhô Béro lamentando a má sorte dos filhos e percebe que, à sua maneira, o pai gostava dele. Grivo vai visitá-lo e leva de presente uma gaiola com um canarinho.
Miguilim torna a piorar, quando acorda com um alvoroço: Nhô Béro matara Luisaltino e fugira para o mato. Vovó Izidra reza com Miguilim. No dia seguinte, fica sabendo que o pai se enforcara com um cipó.
Aos poucos a criança vai sarando e recomeçam os passeios. Tio Terêz volta e Vovó Izidra, por isso, vai embora. Nhanina pergunta a Miguilim se aprovaria seu casamento com o tio, mas para ele tudo se tornara indiferente: pensava apenas em Dito.
Um dia, chegam ao Mutum dois homens para caçar. Um deles, Dr. Lourenço, o qual usava óculos, estranha o olhar de Miguilim e faz nele alguns testes de visão. Percebendo que o menino era míope, empresta para ele seus óculos. Miguilim se encanta com o mundo que vê, pela primeira vez. O médico gosta do menino e convida-o para voltar com ele para a cidade, para estudar. Indeciso, acaba aceitando depois que a mãe o encoraja, dizendo que seria a grande chance dele ser alguém na vida.
O menino vai se aprontar, e Rosa prepara um lanche para ele comer durante a viagem. Antes de ir embora, Miguilim pede os óculos do médico emprestados mais uma vez. Enxerga o Mutum como um lugar bonito e vê os familiares. Acha o tio parecido com o pai, admira-se com a beleza da mãe. Todos choram de emoção, até mesmo o doutor. Miguilim, soluçando, lembra com saudades da Cuca, do Dito, do pai… Sem saber mais o que era alegria ou tristeza, lembra-se dos dizeres do irmão: “Sempre alegre, Miguilim!… Sempre alegre, Miguilim!…” Recebe os beijos da mãe, os doces da Rosa e ouve o falar de Papaco-o-Paco…
B) Uma Estória de Amor (Festa de Manuelzão) da Obra Manuelzão e Miguilim
Mais conhecida como “Manuelzão”, a história se passa na Samarra, “(…) nem fazenda, só um reposto, um currais-de-gado, pobre e novo ali entre o Rio e a Serra-dos-Gerais…” e começa com uma grande expectativa em torno da festa que ocorreria devido à inauguração de uma capela que Manuelzão fez construir a pedido de sua falecida mãe. Muita gente é atraída para o lugarejo por causa disso, e até mesmo um padre é chamado para benzer o “templozinho, nem mais que uma guarita, feita a dois quilômetros da Casa”.
Com mais de sessenta anos, a personagem principal, de cima de seu cavalo, contempla a expectativa do povo nos preparativos para a festa e vai reconstituindo o seu passado. Manuelzão vai buscar Adelço, seu filho natural, “nascido de um curto caso”, o qual não é bem quisto por ele: “(…) era mesquinho e fornecido maldoso, um homem esperando para ser ruim.
Só punha toda estima em sua mulher e nos filhinhos, das outras pessoas tinha uma raiva surdada. Sempre aquela miúda dureza, sem teta de piedade nenhuma”. Em compensação, sua esposa, Leonísia, era uma boa mulher. Ela, contrariamente ao marido, é dona de um grande carinho por parte de Manuelzão: “Leonísia era linda sempre, era a bondade formosa. O Adelço merecia uma mulher assim?”.
Na madrugada anterior à festa, repentinamente, quando todos dormiam, ocorre o inesperado: o riacho que abastecia a casa, “Seco Riacho”, secou: “(…) Mas cada um sentiu, de repente, no coração, o estalo do silenciozinho que ele fez, a pontuda falta da toada, do barulhinho. (…) O riacho soluço se estancara, sem resto, e talvez para sempre. Secara-se a lagrimal, sua boquinha serrana. Era como se um menino sozinho tivesse morrido.”
A festa tem início realmente com a chegada do padre, frei Petroaldo, que é recebido com foguetes e muita alegria: “A voz do povo levantou um louvor, prazeroso. Via-se, quando se via, era muito mais gente, aquela chegança, que modo que sombras. Gente sem desordem, capazes de muito tempo calados, mesmo não tinham viso para as surpresas. Apartavam-se em grupos. Mas se reconheciam, se aceitando sem estranhice, feito diversos gados, quando encurralados de repente juntos.”
Assim, tocando a sua narração como um rebanho, Manuelzão relembra muitos casos conforme o povo vai chegando para a festança: “Estória! — ele disse então. Pois minhamente:
o mundo era grande. Mas tudo ainda era muito maior quando a gente ouvia contada, a narração dos outros, de volta de viagens.” No meio da noite, nas tréguas da festa, as histórias de reis, rainhas e vaqueiros de Joana Xaviel destacam-se: “Se furtivava o sono, e no lugar dele, manavam as negaças de voz daquela mulher Joana Xaviel, o urdume das estórias. As estórias tinham amarugem e docice. A gente escutava, se esquecia de coisas que não sabia.”
A celebração da missa, no dia seguinte, anima ainda mais a festa, que prossegue com danças e violas, cantigas populares e quadrilhas sertanejas, além da farta comida. Antes de o povo ir embora, porém, o velho Camilo, “todo vivido e desprovido”, também conta um caso, o “romance do Boi Bonito, que vaqueiro nenhum não aguentava trazer no curral…” O único vaqueiro que conseguira domar o Boi Bonito, chamado apenas de Menino, fora “dino” (digno) e não quisera dote ou prêmio pela proeza conquistada, queria apenas que o Boi Bonito pastasse livre naquelas paisagens.
Inebriado pela história de seo Camilo, Manuelzão se revigora e não sente mais o peso dos sessenta anos nas costas: sente-se pronto para conduzir a boiada pelas Gerais:
“ — Espera aí, seo Camilo…
— Manuelzão, que é que há?
— Está clareando agora, está resumindo…
— Uai, é dúvida?
— Nem não. Cantar e brincar – hoje é festa – dançação. Chega o dia declarar! A festa não pra
se consumir – mas para depois se lembrar… Com boiada jejuada, forte de hoje se contando
três dias… A boiada vai sair. Somos que vamos.
— A boiada vai sair !”

Resumo Manuelzão e Miguilim

AS PERSONAGENS de CAMPO GERAL
A personagem principal de Campo Geral é Miguilim, criança de oito anos que nasce e cresce no seio de uma família sertaneja típica. Revela-se um menino sensível, delicado e inteligente ao longo da narrativa. Sonhador como a mãe, é fixado no mar, que não conhece.
Dito: o irmão mais querido de Miguilim, seu verdadeiro amigo.
Apesar de mais novo, apresenta sabedoria inata e prudência incomum, as quais o protagonista muito admira. Pessoa muito doce, Dito gosta de todos e nem mesmo o pai brigava com ele. Sua lenta agonia e consequente morte provocada pelo tétano causam grande sofrimento em Miguilim, que leva consigo para o resto da vida as palavras do irmão à beira da morte: “Miguilim, Miguilim, vou ensinar agorinha o que eu sei demais: é que a gente pode ficar sempre alegre, alegre, mesmo com toda coisa ruim que acontece acontecendo. A gente deve de poder ficar então mais alegre, mais alegre, por dentro!…”
Tomezinho: o mais novo entre os seis irmãos, com quatro anos de idade. Era arruivado, como Dito.
Drelina: muito bonita, tinha cabelos compridos e louros.
Chica: tinha cabelos pretos, iguais aos da mãe e aos de Miguilim. Todos diziam que tinha “malgênio”. Tinha muita afeição por Miguilim, que também gostava muito dela e com ela queria se casar quando crescesse. Sabia cantigas de roda e dançava bem.
Liovaldo: o mais velho entre os irmãos, não morava com a família, e sim com o tio Osmindo Cessim, que lhe pagava os estudos. Ninguém se lembrava das feições do irmão até ele aparecer com o tio para visitar a família durante quinze dias. Miguilim não gostava dele, achava que ele era tão ruim quanto o Patori. Os dois brigam quando Liovaldo bate em Grivo, grande amigo do protagonista.
A mãe, Nhanina: muito bonita, com longos cabelos pretos, era uma pessoa muito romântica. Deixou-se envolver pelo cunhado e por Luisaltino, companheiro do marido na roça. Era o grande amor de Miguilim, que, por muitas vezes, ficava com ela magoado por não o defender da fúria do pai.
O Pai, Nhô Béro: maltratava Miguilim, que chegou a planejar sua morte, mas depois chegou à conclusão de que, à sua maneira, ele o amava. Obcecado por Nhanina, chega a ponto de matar Luisaltino e depois cometer suicídio.
O tio, Terêz: irmão de Béro e amante de Nhanina, é expulso de casa por Vovó Izidra por manter um caso com a cunhada. Tinha um carinho enorme por Miguilim, que por ele também muito se afeiçoara. Acaba se casando com Nhanina no fim da narrativa.
A tia-avó, Vovó Izidra: matriarca da família, era tia de Nhanina por parte de mãe e a criou como filha, já que a irmã era “mulher-atoa”. Com grande senso de justiça, foi ela quem expulsou tio Terêz de casa e de lá foi embora quando ele voltou para se casar com Nhanina após a morte de Béro. Chegou a defender Miguilim da ira do pai, dizendo que Nhô Béro tinha “osso no coração”.
A avó, Vó Benvinda: mãe de Nhanina; não criou a filha por ser “mulher-atoa”.
Jé: vaqueiro da fazenda, mantém um caso com Maria Pretinha.
Saluz: vaqueiro que toma conta da fazenda junto com Nhô Béro,; é casado com Siarlinda.
Rosa: a cozinheira; é ela quem ensina o papagaio a dizer “Miguilim, me dá um beijim” e “Dito, Expedito!”
Mãitina: negra velha e beberrona, considerada feiticeira, é também agregada da família.
Maria Pretinha: empregada da família, foge com o vaqueiro Jé, com quem mantinha um caso.
Ainda fazem parte do núcleo de personagens
Seo Deográcias: pai de Patori, é o curandeiro da região.
Patori: filho de seo Deográcias, de gênio muito ruim, ensinava besteiras para Miguilim sempre que podia. Por assassinar um rapaz, foge da região e, pouco tempo depois, é descoberto morto.
Seo Aristeo: vaqueiro alegre, bonito, persuasivo e comunicativo, conhecedor de rezas e de  simpatias, é o único que consegue convencer Miguilim de que não vai morrer quando o menino aposta com Deus. “‘Ele é um homem bonito e alto’ – dizia Mãe. – ‘Ele toca uma viola…’”
Sô Sintra: dono da fazenda onde vivem.
Dr. Lourenço: médico que descobre a miopia de Miguilim e, por ter a ele se afeiçoado, resolve
levá-lo para a cidade para estudar.
Grivo: menino muito pobre que vendia casca de árvore. Apenas passa pelo Mutum, mas Dito e
Miguilim se afeiçoam muito a ele.
Siarlinda: esposa do vaqueiro Saluz, contadora de histórias, inspira Miguilim para começar
também a criar histórias.
Os animais
Cães: Pingo-de-Ouro (também chamada por Miguilim de Cuca, é a sua cadelinha do coração.
Ele fica muito triste quando o pai se livra dela por estar velha e cega); Gigão (o maior de todos,
gostava de brincar com os meninos e defendia-os de tudo), os três veadeiros brancos (Seu-
Nome, Zé-Rocha – Zerró -, Julinho-da-Túlia – Julim); os quatro paqueiros de trela (Catita,
Caráter, Soprado e Floresto) e o perdigueiro Rio-belo.
Gatos: Qùóquo e Sossõe.
Papagaio: Papaco-o-Paco, muito apegado à Rosa, que lhe ensinava falas e cantigas.
As Personagens de Uma Estória de Amor
Em Uma Estória de Amor, a personagem principal é Manuelzão, vaqueiro de mais de sessenta
anos, que tem a sua trajetória lentamente reconstituída em meio à festa que oferece para a
“inauguração” da capela. Seu perfil marca-se pela dedicação ao trabalho de vaqueiro e de
administrador da Samarra: “Ele Manuelzão nunca respirara de lado, nunca refugara de sua
obrigação. Todo prazer era vergonhoso, na mocidade de seu tempo” Ao longo da narrativa,
porém, percebe-se uma necessidade do protagonista por reconhecimento e admiração, como
sendo homem de valor: “Ah, todo o mundo, no longe do redor, iam ficar sabendo quem era
ele, Manuelzão, falariam depois com respeito.”
Ao contrário de Campo Geral, o universo de Uma Estória de Amor é muito grande. Muitas
pessoas povoam a narrativa.
Adelço: filho de Manuelzão com “um caso rápido”, era um “rapagão cabeludo, escurado, às
vezes feio até, quando meio zarolho remirava, com Manuelzão nada se parecia. A mãe
morrera pontual, Manuelzão não se lembrava do nome dela.” Não contava com a simpatia do
pai: “Carecia de um filho, prosseguinte. Um que levasse tudo levantado, sem deixar o mato
rebrotar. Não o Adelço — ele sabia que o Adelço não tinha esse valor. Doía, de se conhecer:
que tinha um filho, e não tinha. Mas esse Adelço saíra triste ao avô, ao pai dele Manuelzão,
que lavrava rude mas só de olhos no chão, debaixo do mando dos outros, relambendo sempre
seu pedacinho de pobreza, privo de réstia de ambição de vontade. Desgosto… Como ter um
remédio que curasse um erro, mudasse a natureza das pessoas?” Visto como mesquinho e
maldoso, era “um homem aguardando para ser ruim”. Tinha muita afeição (apenas) pelos
filhos e, principalmente, pela esposa, de quem não gostava de se separar, contrariando o que
era normal para o seu povo, já que não ter lua de mel é, para um vaqueiro, motivo de orgulho,
um sinal de que se trabalha arduamente: “Por conta disso, para não se separar da Leonísia (…)
não se oferecera insistido para chefiar a comitiva da boiada — deixara que a ele mesmo,
Manuelzão, competisse aquela ida. O Adelço tinha-se feito peso-mole de melhor não ir: pois
queria era ficar, encostelado, aproveitando os gostos de marido, o constante da mulher, o
bebível, em casa com cama.”

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